Imunidade sempre foi um tema muito importante para todos nós, mas, agora devido as circunstâncias (pandemia do Corona Vírus) é um assunto ainda mais importante. Devido à essa importância, resolvi fazer este artigo para vocês saberem tudo sobre imunidade.
A palavra imunidade (do inglês immunity) é originada do termo em latim que significa “isento” ou “livre”, neste sentido refere-se aos mecanismos utilizados pelo organismo como proteção contra agentes do ambiente estranho ao corpo.
A procedência da imunologia é comumente atribuída à Edward Jenner, que observou, no final do Século XVIII, que a doença da varíola bovina ou vaccínia, relativamente branda, parecia conferir proteção contra a doença da varíola humana, geralmente fatal. Em 1796, ele demonstrou que a inoculação com varíola bovina poderia proteger contra a varíola humana. Jenner denominou esse procedimento de vacinação, termo que ainda hoje é usado para descrever a inoculação de amostras enfraquecidas ou atenuadas de agentes patológicos em indivíduos sadios, a fim de conferir proteção contra determinadas doenças.
A imunidade é o mecanismo de defesa do organismo contra agentes infecciosos (antígenos). O processo de defesa do corpo através do sistema imunológico é chamado de resposta imune. Os antígenos podem ser bactérias, vírus, fungos, protozoários e vermes parasitas contidos no ar, na pele, solo, ambiente (objetos, etc). O sistema imunológico (sistema imune ou imunitário) tem como função reconhecer esses agentes infecciosos e defender o organismo da ação dos mesmos, mantendo, assim, o equilíbrio e bom funcionamento do organismo. Ele se constitui à partir de células especiais, moléculas, tecidos, proteínas e órgãos que asseguram essa proteção.
O sistema imune atua através da ação de células de defesa, conhecidas estas por leucócitos (glóbulos brancos) e também pela produção de anticorpos (glicoproteínas, também chamadas de imunoglobulinas), estes são produzidos em resposta à presença de antígenos, que agirão contra esses agentes infecciosos.
Podemos dividir os leucócitos em dois grandes grupos: os granulócitos e os agranulócitos. O primeiro grupo apresenta grânulos no citoplasma e núcleo com formato irregular. Em razão da forma de seus núcleos, esses tipos de leucócitos também recebem o nome de polimorfonucleares. Já os agranulócitos não possuem grânulos e apresentam núcleo com formato relativamente regular.
Os granulócitos são classificados em três tipos diferentes: neutrófilos, eosinófilos e basófilos. Já os agranulócitos podem ser de dois tipos: linfócitos e monócitos.
Veja abaixo uma breve descrição de cada um desses tipos celulares:
GRANULÓCITOS
Neutrófilos – São glóbulos brancos que apresentam núcleos constituídos por dois a cinco lóbulos e possuem dois tipos de grânulos no citoplasma: grânulos específicos e azurófilos. Apresentam a capacidade de sair do interior de vasos sanguíneos intactos (diapedese) e invadir tecidos para defender nosso organismo. São responsáveis por fagocitar organismos invasores, como bactérias, sendo importantes para a resposta inata.
Eosinófilos – São células que apresentam grânulos que se coram ao utilizar eosina e um núcleo com dois lobos conectados por um filamento. Apresentam como principal função fagocitar o complexo antígeno-anticorpo. Essas células aumentam quando o paciente apresenta reações alérgicas ou infecções parasitárias.
Basófilos – São células que apresentam grânulos maiores que os dos neutrófilos e eosinófilos e núcleo grande e de formato irregular que lembra a letra “S”. Sua função é liberar histamina e heparina, funcionando, respectivamente, em respostas alérgicas e evitando a coagulação do sangue.
AGRANULÓCITOS
Linfócitos – São pequenos e apresentam um grande núcleo circular e importante papel na resposta imune. Essas células podem ser classificadas em dois tipos principais: linfócitos B e linfócitos T.
Linfócitos B – Essas células originam-se e terminam sua maturação ainda na medula. Quando sofrem ativação, diferenciam-se em plasmócitos, que possuem como principal função a produção de anticorpos.
Linfócitos T – Os linfócitos T recebem esse nome por completarem sua maturação no timo. Esse grupo de células diferenciam-se em duas classes: CD8+, ou citotóxicas, e as CD4+, ou auxiliares. O primeiro grupo mata as células infectadas, enquanto o CD4+ relaciona-se com a ativação dos linfócitos B e macrófagos.
As células T se multiplicam e se especializam em diferentes tipos de células T. Esses tipos incluem:
- Células T killer (citotóxicas) aderem aos antígenos em células infectadas ou anormais (cancerígenas, por exemplo). As células T killer matam estas células fazendo furos em suas membranas e injetando enzimas nas células.
- Células T auxiliares ajudam outras células imunológicas. Algumas células T auxiliares ajudam as células B a produzirem anticorpos contra antígenos estranhos. Outras ajudam a ativar as células T killer para matar células infectadas ou anormais, ou ainda ajudam a ativar os macrófagos, permitindo que eles ingiram células infectadas ou anormais de forma mais eficaz.
- Células T supressoras (reguladoras) produzem substâncias que ajudam a encerrar a resposta imunológica ou por vezes, evitam que ocorram certas respostas prejudiciais.
Células dendríticas
As células dendríticas residem na pele, nos linfonodos e nos tecidos de todo o organismo. A maioria das células dendríticas são células apresentadoras de antígenos. Ou seja, elas ingerem, processam e apresentam antígenos, permitindo que as células T helper reconheçam o antígeno. As células dendríticas apresentam fragmentos de antígenos às células T nos linfonodos.
Outro tipo de célula dendrítica, a célula dendrítica folicular, apresenta antígenos brutos (intactos) que foram ligados com um anticorpo (complexo anticorpo-antígeno) às células B. As células dendríticas foliculares ajudam as células B a responder a um antígeno.
Após as células T e B serem apresentadas com o antígeno, elas são ativadas.
Monócitos – São células grandes que possuem um único núcleo com formato de rim. Essas células realizam diapedese e caem no tecido conjuntivo, onde se desenvolvem em macrófagos, células de alto poder fagocitário.
Existem cinco classes de imunoglobulina com função de anticorpo: IgA, IgD, IgE, IgG e IgM. Os diferentes tipos se diferenciam pelas suas propriedades biológicas, localizações funcionais e habilidade para lidar com diferentes antígenos. As principais ações dos anticorpos são a neutralização de toxinas, opsonização (recobrimento) de antígenos, destruição celular e fagocitose auxiliada pelo sistema complemento.
– IgM é a primeira imunoglobulina a ser expressa na membrana do linfócito B durante seu desenvolvimento. Na membrana das células B, a IgM está na forma monomérica. É a principal imunoglobulina da resposta primária aos antígenos. É a primeira classe a eleva-se na fase aguda dos processos imunológicos. Trata-se de uma classe bastante ativa contra as bactérias.
– IgD perfaz menos de 1% do total de imunoglobulinas plasmáticas e a função biológica que precisa dessa classe de imunoglobulina é ainda incerta. A IgD é co-expressa com a IgM na superfície de quase todas as células B maduras.
– IgG é a imunoglobulina mais abundante no soro e está distribuída uniformemente entre os espaços intra e extravasculares. É o anticorpo mais importante da resposta imune secundária. Em humanos, as moléculas de IgG de todas as subclasses atravessam a barreira placentária e conferem um alto grau de imunidade passiva ao feto e ao recém-nascido. É a responsável pela “cicatriz sorológica”, isto é permanece sempre em certo nível na circulação após um processo imunológico.
– IgA é a imunoglobulina mais concentrada nas secreções exócrinas (saliva, lágrima, colostro, leite, esperma, secreção vaginal) protegendo pele, mucosa gastrintestinal, mucosa respiratória, mucosa urinária, mucosa ocular, etc. É o que confere a chamada imunidade local. Barreira contra vírus, micróbios e alérgenos. É a que confere a imunidade gastrintestinal passiva da mãe para o lactente, através da amamentação.
– IgE é encontrada nas membranas superficiais dos mastócitos e basófilos em todos os indivíduos. Essa classe de imunoglobulina sensibiliza as células nas superfícies das mucosas conjuntiva, nasal e brônquica. Participa de fenômenos alérgicos e reações anafiláticas. Encontrada também no cordão umbilical, mucosas e colostro. Encontrada em níveis elevados na presença de infecções parasitárias.
Tipos de células e órgãos do sistema imunológico
A imunidade pode ser classificada de várias formas, dentre elas podemos destacar a imunidade inata, que é presente em pessoas saudáveis; e a imunidade adquirida, que se dá após contato com um agente invasor e é específica contra o mesmo.
Para se ter uma boa imunidade, é importante ter diversos hábitos de vida saudáveis e cuidados, como por exemplo, praticar exercícios físicos, ter uma boa alimentação, descanso diário adequado, suplementação e diversos outros hábitos e cuidados (escrevi um artigo no site que fala sobre isso: “10 dicas e cuidados que você deve ter com a sua imunidade”).
A imunidade é muito importante e vital na defesa do nosso organismo contra diversas doençascausadas por agentes químicos ou biológicos, e desta forma mantém a homeostase (habilidade de manter o meio interno em um equilíbrio quase constante, independente das alterações que ocorram no ambiente externo). Ela também atua como prevenção, ou seja, protege o nosso corpo, evitando o surgimento de doenças, podendo impedir que uma doença progrida e ela também atua na identificação ou na destruição de células estranhas, conhecidas como patógenos (organismos que são capazes de causar doença em um hospedeiro), atuando também na identificação de células danificadas ou mutantes. Os benefícios da imunidade são diversos, inclusive auxilia na cura de diversas doenças, como o câncer.
Classificação da imunidade
Existem dois tipos de respostas imunes: a inata (natural ou não específica) e a adquirida (adaptativa ou específica).
Imunidade inata
A imunidade inata é a primeira linha de defesa do organismo, com a qual ele já nasce. É uma resposta rápida, não específica e limitada aos estímulos estranhos ao corpo. É representada por barreiras físicas, químicas e biológicas, células e moléculas, presentes em todos os indivíduos.
Os principais componentes da imunidade inata são as Barreiras Mecânicas, Químicas e Microbiológicas
Barreiras Mecânicas
– Pele intacta;
– Cobertura das mucosas intacta;
– Secreção das mucosas (mucinas);
– Reflexo de piscar e lágrimas;
– Pêlos nas narinas e movimento dos cílios nos pulmões;
– Reflexos de tosse e espirro.
Barreiras químicas
– Secreções sebáceas e suor;
– Histatinas (peptídeos ricos em histidinas) na saliva;
– HCl e enzimas digestivas no estômago;
– Lisozima e fosfolipase A2 nas lágrimas e saliva;
– pH ácido na vagina;
– Defensinas produzidas pelos epitélios (pele, língua e tratos respiratórios e urogenital);
– Enzimas proteolíticas e peptídeos antimicrobianos (criptocidinas ou defensinas) no intestino delgado.
– Peptídeos ricos em cisteínas constituídos por 29-34 aminoácidos produzidos pelo epitélio e em grânulos presentes no interior dos neutrófilos;
– Antibióticos de largo espectro que são capazes de matar grande variedade de bactérias e fungos.
Barreiras Microbiológicas (flora bacteriana normal)
– Competição por nutrientes essenciais;
– Competição por aderência ao epitélio;
– Produção de substâncias antimicrobianas (ex: ácido lático produzido pelos lactobacilos presentes na vagina e bactericinas).
Imunidade Adquirida:
Ocorre após contato com um agente invasor, por exemplo, vírus e bactérias, e é específica contra esse agente. Após o contato, ocorre uma série de eventos que desencadeiam a ativação de determinadas células, bem como a síntese de proteínas. A imunidade adquirida pode ser dividida em humoral e em celular. As imunidades humoral e celular atuam juntas na defesa do organismo.
– Imunidade Humoral x Imunidade Celular
Imunidade humoral é mediada por anticorpos, produzidos por Linfócitos B, e é o principal mecanismo de defesa contra microrganismos extracelulares e suas toxinas. Já a imunidade celular é mediada por Linfócitos T, que promovem a destruição dos micro-oganismos presentes em fagócitos ou a destruição de células afetadas para eliminar os reservatórios da infecção.
A imunidade também pode ser classificada em ativa, passiva e transferência adotiva, conforme abaixo:
Ativa: é a proteção conferida pela estimulação antigênica do sistema imunológico com o desenvolvimento de uma resposta humoral (produção de anticorpos) e celular. Esta estimulação pode ocorrer por infecção natural ou pelo uso de vacina, apresentando assim, uma “memória”.
Passiva: o indivíduo receberá os anticorpos já prontos para combater determinados antígenos. Esse tipo de imunização pode acontecer pela transferência de anticorpos da mãe para o feto ou pela administração de anticorpos, via soro, no doente.
Transferência adotiva: refere-se à transferência de imunidade por meio da transferência de células do sistema imune (transfusão sanguínea).
Tipos de respostas imunes
A imunização pela produção de anticorpos é denominada resposta imune. Ela ocorre quando o organismo identifica a presença de algum antígeno e de duas formas:
- Resposta imune primária: a resposta imune primária se desenvolve quando o indivíduo entra em contato com o antígeno pela primeira vez, havendo a produção de anticorpos e desenvolvendo células B de memória. Quando o indivíduo entra em contato pela segunda vez, a produção de anticorpos será muito mais rápida e eficiente, pois as células B de memória vão reconhecer o antígeno e produzir anticorpos (resposta imune secundária, como nas vacinas).
- Resposta imune secundária: o organismo eleva ainda mais a concentração de anticorpos no sangue. Essa resposta ocorre em uma nova exposição a um mesmo antígeno. Esse mecanismo está relacionado à memória imunológica, na qual células que já produziram anticorpos contra um determinado antígeno retêm essa informação e voltam a produzi-los, de forma ainda mais rápida, quando detectam a presença desse mesmo antígeno.
A resposta imune adquirida, mediada pelos linfócitos B e T, apresenta uma série de propriedades que administram a resposta destes. São elas:
- Especificidade: o sistema imunológico reconhece os diversos antígenos e produz uma resposta imunológica específica para cada um deles.
- Diversidade: o sistema imune é capaz de reconhecer milhares de antígenos diferentes e produzir uma resposta adequada para cada um deles.
- Memória imunológica: a exposição do sistema imunológico a antígenos faz aumentar sua habilidade em responder a esse mesmo antígeno novamente. As respostas subsequentes ao mesmo antígeno são normalmente mais rápidas, maiores e qualitativamente diferentes da primeira. Uma vez produzidas, as células de memória têm vida longa e são capazes de reconhecer este antígeno por anos.
- Especialização: o sistema imune responde por vias distintas a diferentes antígenos, maximizando a eficiência dos mecanismos de defesa. Assim, os linfócitos B e T se especializam entre as diferentes classes de microrganismos ou pelos diferentes estágios da infecção do mesmo micro-organismo.
- Discriminação ou Auto-tolerância: capacidade de reagir que os linfócitos B e T apresentam contra moléculas estranhas, mas, não apresentam contra suas próprias moléculas.
- Auto-limitação da resposta: as células B e T ativadas produzem moléculas que auxiliam o término da resposta imune. Para B são as imunoglobulinas G4 (IgG4) e para T são as interleucinas 4 e 10 (IL-4 e IL-10).
Saiba o que é imunidade baixa (imunodeficiência)
A imunidade baixa, ocorre quando o organismo do paciente está com sistema imunológico fragilizado. Em sua maioria, isso ocorre devido a doenças crônicas (Aids, Diabetes, entre outras) ou passageiras. Uma nutrição não adequada, distúrbios de sono e quadros de depressão também podem estar nessa lista. Além disso, hábitos de vida como tabagismo, abuso de álcool, sedentarismo, estresse, entre outros, reduzem as defesas do organismo (leia o artigo: “10 dicas e cuidados que você deve ter com a sua imunidade”). Tudo isso pode contribuir para uma disfunção imunológica, e, assim, o organismo fica mais suscetível a infecções.
Conclusão:
A imunidade é extremamente importante tanto para a saúde, como também qualidade de vida e longevidade. Eu desejo com intensidade que vocês passem a policiar a mesma em suas vidas.
Afinal de contas, o seu corpo é o seu templo, cuide bem do seu templo! Ele SEMPRE deve ser a sua prioridade das prioridades!
Autor: Equipe de redação da empresa Dan Champions
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